sábado, 17 de janeiro de 2009

Destaque esportivo

Tragédia faz torcida mais fanática do RS viver seu pior dia

Morte do atacante Cláudio Milar, do zagueiro Régis e do preparador de goleiros entristece o Brasil de Pelotas e deixa a cidade perplexa

Alexandre Alliatti Direto de Pelotas, RS

Pelotas acorda neste sábado como quem desperta de um pesadelo. A cidade da Região Sul gaúcha, famosa pelos doces, sente na boca o gosto amargo de uma tragédia. O clima ainda é de perplexidade pela morte do atacante Cláudio Milar, do zagueiro Régis e do preparador de goleiros Giovani Guimarães. Outros sete profissionais do Brasil de Pelotas passaram a noite hospitalizados em função do acidente com o ônibus da delegação na noite de quinta-feira.

O veículo não venceu uma curva e despencou em um barranco. Capotou repetidas vezes até finalmente parar. O goleiro Danrlei, ex-Grêmio, foi o primeiro a sair. Era quase meia-noite de quinta para sexta-feira. Ele subiu o morro, foi até a estrada e, um quilômetro adiante, encontrou uma casa. Bateu à porta e pediu ajuda. Explicou a um morador que o elenco do Brasil de Pelotas estava envolto em um grave acidente.

Com o auxílio, os jogadores e membros da comissão técnica começaram a ser levados ao hospital. Não demorou para ganhar forma a notícia de que três deles não haviam sobrevivido. Pelotas, em especial a nação xavante, estava diante de uma tragédia que faria da sexta-feira, 16 de janeiro de 2009, o pior dia já vivido pela torcida mais fanática do Rio Grande do Sul.

A manhã foi de tristeza. O acidente era assunto obrigatório nas ruas da cidade, que ainda conserva um ar interiorano, embora seja um dos principais municípios gaúchos. Com o passar das horas, camisas xavantes passaram a circular por Pelotas. Estava armada a despedida às vítimas.

Os três foram velados no gramado do estádio Bento Freitas, o palco do trabalho diário de cada um deles. Uma multidão passou por lá sem parar. Às 14h, o corpo de Cláudio Milar, maior ídolo da torcida, foi levado para o Chuí, onde será sepultado neste sábado. Régis e Guimarães foram conduzidos ao cemitério pouco antes das 18h em um caminhão do Corpo de Bombeiros.

No trajeto, aplausos, acenos de adeus e palavras de agradecimento. A torcida do Brasil de Pelotas deu provas daquela força que ela sabe que tem. No cemitério, eram aproximadamente 3 mil pessoas, a maioria visivelmente humilde, quase todas vestindo o vermelho e preto do clube. Muitos choraram. Giovani Lima, 46 anos, funcionário público, tinha a emoção denunciada pelos olhos molhados.

"Para nós, é uma perda irreparável. Convivíamos com esses meninos. O Milar era o maior ídolo da história do clube. É um dia terrível. Nunca vivemos nada parecido", disse ele. Durante todo o dia, alguns dos principais clubes brasileiros manifestaram solidariedade ao Rubro-Negro e até se disseram dispostos a emprestar atletas. A diretoria não quis adiantar decisões.

A perda de meio time entre feridos e mortos é destrutiva para um clube sem grandes recursos financeiros. É possível que o Brasil sequer dispute o Campeonato Gaúcho. A decisão ficou para segunda-feira, quando o pesadelo já estiver consolidado como uma triste realidade que a torcida mais fanática do Rio Grande do Sul precisará encarar.

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