segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Os casarões da Avenida Paulista


No dia 8 de Dezembro de 1891, foi inaugurada Avenida Paulista, que recebeu este nome em homenagem aos Paulistas e Paulistanos. Durante muitos anos os Barões do Café residiram na Avenida Paulista.

A Avenida Paulista foi projetada pelo engenheiro uruguaio Joaquim Eugenio de Lima, que, juntamente com mais dois sócios, adquiriu parte da Chácara do Capão, incluindo a área do Morro do Caaguaçú. Essa área foi loteada, e a Paulista foi construída no alto do espigão, a 900 metros do nível do mar.

Para a época, ela era algo nunca visto: muito larga, com três vias separadas por magnólias e plátanos e com imensos lotes de cada lado. Foi a primeira via pública asfaltada e arborizada de São Paulo. A primeira fase da Avenida Paulista foi de 1891 (sua inauguração) até 1937.

Aos poucos, ela se transformou no centro de animação da cidade. Os ricos senhores do café, os grandes comerciantes e os chefes das indústrias construíram elegantes mansões nos lotes da avenida.

Lá, aconteceram corridas de charrete, de cabriolés e dos primeiros automóveis e os grandes carnavais dos anos 20 e 30. No final da década de 1920, seu nome foi alterado para Avenida Carlos de Campos, em homenagem ao ex-governador do estado de São Paulo, mas o povo não gostou, então o nome dela voltou a ser Avenida Paulista.

Como se pode perceber, a Avenida Paulista sempre sofreu transformações, porém, apesar de tudo o que aconteceu, ela permanece com seu charme, importancia para a cidade e para America Latina, sendo hoje Centro Financeiro e Cultural do Brasil.

Nomes ilustres que fizeram a História da Cidade de São Paulo residiram na Avenida Paulista, como Conde Francisco Matarazzo, Von Bulow, Caio Prado, Numa de Oliveira, Horácio Sabino, Joaquim Franco de  Mello,  Francisco Alberto Silva Pereira, Matarazzos, Siciliano, Pinotti Gamba, Yolanda Penteado, Von Hardt, o Barão Vermelho, Scarpa, Ramos de Azevedo, Cerqueira Cezar, Dumont´s Villares, Scurachio, Andraus, Tomasellis, entre tantos outros.

Hoje em dia na Avenida Paulista só restam cinco Casarões que foram tombados como patrimônio histórico da Cidade de São Paulo.

Estes casarões mostram um pouco da Bela Época da Elite Paulistana, quando ancestrais de muitas familias atuais desembarcaram no Brasil foram trabalhar nas residências dos Barões do Café, do Comércio e Industria  na Avenida Paulista.

Mas uma das transformações foi a perda de mansões e palacetes, que ao longo do anos foram susbstituidos por enormes edificios, estacionamentos, Shopping Centers, entre outras ocupações.

Falar sobre estes casarões, requer tambérm viver o que foi a avenida em sua história de palácios, barões, condes, que se seguem abaixo:


Avenida Paulista em 1898.


Sentido Paraíso-Consolação, em 1902 (ao fundo, pico do Jaraguá e a direita mansão dos Matarazzos.

Sentido Consolação-Paraíso, em 1907.


Esquina da rua Bela Cintra com a Avenida Paulista olhando para o Paraíso. Foto de 1911, de Guilherme Gaensly.


Vista da Avenida sentido Paraíso a partir da esplanada do Trianon, local onde hoje é o MASP. Foto de 1916.


Avenida Paulita em 1916.


Vista do parque Trianon (no topo) sob a Avenida 9 de Julho, local onde hoje é o MASP. Foto de 1940.


OS PALACETES E MANSÕES
Na época dos casarões a Avenida Paulista era o local onde ocorriam os eventos sociais e esportivos, como a corrida de automóveis. O Trianon era o parque ingles da cidade, frequentado pelos moradores da avenida. Veja agora algumas fotos dos casarões, inclusive de alguns que permanecem, e do Trianon antes do alargamento da avenida (que ocorreu nos anos 60/70) e da construção do MASP. O escritório que mais fez projetos para a avenida foi o escritório de Ramos de Azevedo, que construiu algumas das casas que mostramos abaixo.



Familia Francisco Alberto Pereira, em 1897 quando a Avenida Paulista ainda não era pavimentada.

Mansão Baronesa de Arary, que ficava na Avenida Paulista, 1745 (ao lado do Parque Siqueira Campos), onde foi construído Edifício com o mesmo nome.



Residência de Horácio Sabino, 1903. Trecho entre as ruas Augusta e Peixoto Gomide. Projeto do arquiteto Victor Dubugras. (1903). Demolido nos anos 50 para construção do Conjunto Nacional.






Residência Tomaselli, 1904.

Palacete Tomaselli.









Residência de Luis Perroni, 1908.




Foto de 1915 de outra casa projetada pelo escritório Ramos de Azevedo, que ficava na esquina da Rua Haddock Lobo com a Avenida Paulista e pertencia a José Cardoso de Almeida.

Residência de Josefa Gavião Peixoto, 1915.

Avenida Paulista, 1009 - O Palacete Numa de Oliveira, em 1916, projetado pelo engenheiro português Ricardo Severo, e considerado um dos primeiros e mais importantes exemplares da arquitetura residencial em estilo neocolonial.



Residência de João Baptista Scurachio, 1920, entre ruas Augusta e Peixoto Gomide.




Mansão Nagib Salem de 1920 Entre a Rua Pamplona e Al Joaquim Eugênio de Lima.

Foto de 1921 da casa de Gabriela Dumont Villares que ficava na Avenida Paulista entre a Rua Minas Gerais e a Rua Augusta, projeto escritório Ramos de Azevedo.





A Casa das Rosas, que foi preservada num acordo que a Prefeitura fez com o proprietário quando da construção do prédio que fica no mesmo terreno, era a casa de Ernesto Dias de Castro e também foi projeto do escritório Ramos de Azevedo  – a construção data de 1930 (foto superior) e as demais são mais atuais.




Av. Paulista, 867 - Palacete Abrão Andraus em 1896, depois passou a ser casarão de Josephina Lotaif nos Anos 30.






Ficava no trecho entre Peixoto Gomide e Pamplona.


Trecho da Rua da Consolação modificado em 1971.Um complexo viário foi construído no final da Avenida, mas as mansões a direita ainda sobreviveram.








Instituto Pasteur.


Capela do Hospital Santa Catarina que é uma entidade privada situada na avenida Paulista, na cidade de São Paulo, SP, Brasil. Foi fundado em 1906.

Fundada em 1907, a Escola Estadual Rodrigues Alves é a única escola pública da avenida Paulista, no número 227 - Projeto de Ramos de Azevedo (Foto de 2008)

Quando os casarões foram destruídos pelos próprios Donos
A Perda do casarão de Josephina Lotaif

O silêncio que pairava sobre a região da Paulista naquele domingo foi interrompido por uma série de estrondos violentos. Alguns moradores de edifícios próximos ficaram alarmados. Não chovia. No céu, nenhum rastro de fumaça. De suas janelas, os vizinhos não puderam identificar qualquer indício do ocorrido. Nenhum deles suspeitou das escavadeiras que investiam contra dois dos mais antigos casarões da avenida-símbolo da cidade. 

Os enormes braços mecânicos gastaram poucos minutos para atacar a estrutura do imóvel no 283, na esquina da Rua Teixeira da Silva. A poucos metros dali, no no 498, as máquinas iniciaram a derrubada pelos fundos. Seus operadores sumiram em seguida, deixando-as dormir em meio ao entulho e às paredes que não tiveram tempo de alcançar. 

Eles voltariam. Haviam sido contratados pelos proprietários, que queriam descaracterizar suas residências e, com isso, impedir que fossem tombadas. Era 20 de junho de 1982, e um pedaço da história de São Paulo desmoronava.

Os acontecimentos foram retratados pelos jornais como atos de barbárie, mas a opinião pública não afetou os planos de outra família. Na quarta-feira daquela mesma semana, o casarão de Josephina Lotaif foi parcialmente derrubado por motoniveladoras, perto das 2h da manhã. Conhecida como casa mourisca, ficava no no 867, próximo à Alameda Joaquim Eugênio de Lima. 


Sua queda foi a que mais repercutiu. Já se suspeitava de que a casa corria perigo, porque os Lotaif foram uma das três famílias que se recusaram a receber a notificação da Secretaria de Cultura, que, meses antes, informava sobre a possibilidade de tombamento do imóvel.

Avenida Paulista. Palacete Lotaif.


“Defesa primitiva” 

As demolições foram desencadeadas por uma declaração do presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo (Condephaat) na época, o arquiteto Ruy Ohtake. Ele confirmou que corria um projeto de tombamento dos 31 casarões que ainda existiam na avenida. Na época, a lei não previa indenização aos proprietários. Com isso, eles teriam de encontrar compradores dispostos a preservar as construções históricas – e a se sujeitar às limitações.

“Foi uma forma primitiva de salvar o patrimônio”, afirma Modesto Carvalhosa, advogado que, anos mais tarde, teve participação ativa na revisão da lei e presidiu o Condephaat entre 1984 e 1987. “Não é justificável moralmente, mas economicamente, sim. O governo foi ingênuo. Devia ter tombado antes e falado depois.”

Os eventos de 1982 estimularam a revisão das leis de tombamento. Em 1984, o advogado Modesto Carvalhosa e o historiador Benedito Lima de Toledo ajudaram a criar a Lei de Transferência de Potencial Construtivo, que compensa o dono de um imóvel tombado. 

Ele passa a ter o direito de vender as áreas não construídas do terreno, onde o novo proprietário pode erguer um empreendimento moderno, desde que se comprometa a arcar com os custos de preservação das edificações de valor histórico. Ainda assim, duas outras casas foram demolidas clandestinamente, na calada da noite.

A perda da Mansão Matarazzo 


A Família Matarazzo que residiu na Paulista da década de 1920 até os anos 1970. A trajetória desta família está ligada ao desenvolvimento econômico do Estado de São Paulo remetendo a cidade de Sorocaba, a primeira residência de Francisco Matarazzo. Lá ele iniciou sua grande trajetória e chegou a ser o maior empresário do nosso país. A decadência das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) começou a ocorrer na década de 1970.





A Mansão pertenceu a um dos maiores industriais da América Latina, justamente o Conde Francisco Matarazzo (1854-1937, nascido em Castellabate, Itália, como “Francesco Antonio Maria Matarazzo”). 

Conta-se que a Mansão Matarazzo, então localizada no nº 1230 (no cruzamento com a Rua Pamplona, do lado do bairro Bela Vista) – e que cuja construção integral se deu entre 1896 e 1941 –, chegou a ser em 1989 tombada pela Prefeitura na gestão de Luíza Erundina de Souza, que curiosamente queria ali construir uma espécie de “Museu do Trabalhador”, em oposição simbólica àquele espaço de glamour e refino da elite industrial.

Na maior parte da década de 1990 a mansão da família Matarazzo permaneceu fechada.

A prefeita Luiza Erundina, decidiu então de fato criar o Museu do Trabalhador, pois o local era adequado, as salas eram espaçosas e o local de fácil acesso.
Contudo, em 1996, num verdadeiro ataque brutal ao patrimônio histórico, regido por leis e interesses não adequados, ocorreu aos olhos das autoridades e da população paulistana, sem que nada pudessem fazer.

A célebre mansão da família Matarazzo foi dinamitada e sua demolição tornou-se inevitável, já que toda a estrutura ficou abalada. Além do patrimônio, enterrou-se ali parte da história da industria paulista e de seus desbravadores imigrantes italianos.

O pedido de tombamento que tinha mais de 20 anos, foi oficialmente cancelado, e o terreno foi transformado num enorme estacionamento que funcionou por anos.

AS  IMAGENS DA DESTRUIÇÃO






A demolição aconteceu em 1996.

O QUE SOBROU E FOI MANTIDO PELO ESTACIONAMENTO



O famoso portão de entrada da Mansão Matarazzo.

....e a Avenida muda......

Palacetes virando prédios, árvores dando lugar ao concreto. A paisagem singular da avenida Paulista começou a dar espaço a novas edificações e, definitivamente, a mais paulistana das avenidas morreu e renasceu como outra mais moderna, com novas tendências arquitetônicas que favoreciam a especulação imobiliária.

Daquela época, poucos exemplares sobreviveram como a Casa das Rosas, último projeto arquitetônico assinado por Ramos de Azevedo e destinado para ser a moradia de uma das suas filhas, além do Palacete de Joaquim Franco de Mello, o Colégio Rodrigues Alves, o Instituto Pasteur, Maison Denner, Villa Fortunata, Casa das “Uvaias”, Residência Dina Brandi e a Capela Santa Catarina. Em 2,8 km de avenida, a Paulista possui apenas 5 imóveis tombados.

Créditos/Agradecimentos:
Glaucia Garcia de Carvalho, Léo Sécio,  Livro Avenida Paulista - A síntese da metrópole,Antonio Soukef Jr., Ricardo Ferreira, livros "Album Iconográfico da Avenida Paulista" e "O Palacete Paulistano", Everton Calício, Patricia Cerqueira, Maria Simas Filho, Eli Mendes de Morais (Saudades de Sampa), Gutooo, G.Brandão, Felipe Pontes, Luiz de Franco, The Urban Earth, Folha de São Paulo, Revista Época, José Roberto Andrade Amaral, Blogs, sampaonline.com.br, Google Street View e acervo pessoal de fotos e imagens.

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